Manhã de domingo em Porto de Galinhas. Menos de 48h pro término do prazo pra envio da documentação pra inscrição do Mestrado.
Quando me dou conta disso, pulo da cama, tomo um farto café-da-manhã e pego meu laptop. Escolho um lugar especial (sim, tem que ser muuuuito especial pra funcionar!): uma mesinha no deck do bar do hotel, de frete praquele marzão verde, do lado da piscina, onde tudo que ouço é a batida das ondas do mar na beira da praia.
Sim, é este meu lugar!
Peço uma água de côco bem gelada, abro o arquivo em word do dia anterior, e começo a digitar....
Digito praticamente em trânse.... fazendo intervalos apenas para contemplar, por segundos, aquela belezura de marzão na minha frente e para dar uns goles na água de côco...
Duas horas depois, sou interrompida por um chamado do chefe(5)ara uma reunião rápida pra acertar os detalhes das atividades do dia seguinte.
Depois da reunião, vem aquela fala desagradável “Como está o projeto? Marce disse que vc tá escrevendo agora... me manda pra eu ler!”.
Ai! Nunca desejei tanto que um buraco se abrisse pra eu poder me enfiar nele e não sair nunca mais! Eu, enviar aqueles parágrafos desconexos pro meu chefe, o GRANDE intelectual da educação, ler?! NUNCA! A morte me soa menos cruel!
Digo que não tá pronto, que não consegui escrever antes e que agora não vai dar tempo, que patati, patatá... Mas que no próximo ano escreverei o melhor projeto-de-mestrado-do-sul-do-mundo! Ele me olha com uma cara de reprovação ABSURDA, me encara olho-no-olho e diz “Continue aqui escrevendo e me envie do jeito que estiver até as 16h. Eu olho, arrumo e escrevo o que faltar antes da abertura da atividade da noite. NÃO DEIXEMOS DE ENVIAR ESSA INSCRIÇÃO AMANHÃ!”
Frio na barriga!
Almoço correndo, volto a escrever... Junto pedaços, procuro citações nos 2 livros que levei comigo, esmago meu cérebro, escrevo mais um pouco, salvo o arquivo e abro o e-mail. Ai, que merda! Os parágrafos ainda estão desconexos... não sei onde colocar aquela parte que diz como vou fazer a pesquisa.. não sei que palavras usar pra começar as frases... SOCORROO!
Lembro do projeto do pós-doc de Lili(6)que ela me enviou há semanas atrás pra me inspirar. Leio o texto. É isso! As palavras que vão abotoar minhas idéias!
Pego umas idéias, grudo nas minhas, arrumo aqui, mexo lá. Fim. Que merda que ficou!
Escrevo uma daquelas mensagens que só os derrotados sabem escrever. Anexo o arquivo e aperto o maldito ENVIAR. Arquivo enviado pr”o chefe” com sucesso.
Depois de ele pegar tanto no meu pé horas antes, desenho as hipóteses na minha cabeça:
a) Ele vai ler, vai achar um lixo, vai pensar “por que é mesmo que eu fui insistir com essa menina?” e vai me escrever um e-mail bem doce, dizendo que não teve tempo de ler, e que tudo bem eu tentar no próximo ano, assim teria mais tempo pra preparar o projeto.
b) Ele vai ler, vai achar uma porcaria, vai abrir um novo arquivo, digitar loucamente durante 20min e escrever um novo projeto pra eu apresentar... Isso deve ser mais fácil do que corrigir o que estará lendo... e ainda terá uma orientanda pesquisando algo que ele queria.
c) Ele nunca mais vai tocar no assunto do meu mestrado!
Levantadas as hipóteses, penso que preciso enfrentá-las, encará-las de frente!
A vida é assim, altos e baixos, dias bons e dias ruins! E aquele, definitivamente, estava sendo um dia ruim.
Tomo banho, me arrumo pra abertura da atividade, e saio da minha caverna, digo, meu quarto. Esbarro na Marce, que me olha já dando risada e diz “ele te enviou o arquivo. Disse que você só precisa colocar o nome”.
Socorrooooo!
Meu coração dispara! Mal consigo ligar o computador novamente...
Olho pra caixa de entrada dos e-mail e eis que lá está a mensagem dele... será que eu clico e abro? Ou excluo e finjo que não recebi nada e só conto amanhã?
Abro, na maior demonstração de coragem que um covarde pode ter.
Desmaio... mentira... leio atentamente a mensagem do e-mail.. algo como “fiz pequenas alterações. NÃO DEIXE DE EVIAR. NOS VEMOS NA SELEÇÃO”. Abro deseseradamente o arquivo e começo a ler, pra descobrir qual das hipóteses foi a vencedora!
Morri. Ploft!
Ele alterou algumas coisinhas, ainda formatou, fez uma capinha com um lugar escrito COLOQUE SEU NOME AQUI!
Nhommmmm!!!!
Respondo o e-mail com um gigantesco “Obrigada” mal contendo a alegria por nenhuma das hipóteses levantadas pela minha mente doentia terem acontecido.
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