Foi estranho.
Ontem, pela primeira vez na minha vida, fui ao cemitério pra limpar a lápide. Até então, meu papis era o responsável por esta tarefa junto com meu tio... Lembro do meu tio passando lá em casa no sábado antes do dia de finados, pra pegar meu pai e as trakitanas pra irem ao cemitério limpar a lápide. Nunca olhei pra dentro do balde pra ver o que papis levava lá dentro... E ontem me arrependi por nunca ter olhado.
Não sabia o que tinha que levar.
Sabia que tinha algo "especial" que precisava ir comigo, pra polir o bronze, mas o que seria?
Peguei um balde, panos, escovinhas e sapólio e segui rumo ao cemitério...
O cemitério onde temos o jazigo é um daqueles cemitérios-parque.. não tem túmulos pra cima da terra... só uma grama beeem verdinha com lápides douradas, onde se colocam as plaquinhas com os nomes das pessoas enterradas ali...
É tudo meio igual... é preciso criar uma referência pra identificar o local do jazigo... Eu sempre achei fácil, mas ontem foi diferente...
Cheguei ao cemitério com meu balde e as trakitanas... Tava cheio... muita gente limpando as lápides... muitas outras já deixando suas flores para os seus...
Encho o balde da água e caminho em direção ao jazigo... procuro.. procuro... procuro... e nada de encontrar... Será que não colocaram a plaquinha que encomendamos com o nome de papis?
Fico ali, caminhando na grama com o balde na mão, olhos pra baixo tentando encontrar o nome de papis escrito... Nada!
Mando um torpedo pra minha irmã, perguntando qual era mesmo a referência pra encontrar o jazigo... ela responde "árvore de folhas amarelas"... Affeee, olho em volta e vejo duas com esta característica... Procuro... procuro... procuro de novo e nada... Será que não colocaram a plaquinha? Mas eles prometeram colocar antes do dia de finados! Será?
Continuo procurando... procurando... Meus olhos se enchem de lágrimas, meu coração fica apertado... Como assim eu não encontro meu papis??
Uma senhora vem em minha direção e pergunta o nome que eu estou procurando e diz que vai me ajudar a procurar... Com nó na garganta, agradeço e, constrangida, respondo que ainda não estou acostumada com aquele lugar, mas que vou voltar ao ponto inicial e fazer o caminho novamente, pois assim tenho certeza que encontrarei...
Retorno ao estacionamento e caminho tudo novamente, na direção que eu imagino ser a correta...
Olhos para o chão e NADA de novo! Não encontro a lápide com o nome de papis... Caio no choro... Choro como se não houvesse amanhã...
Páro, respiro fundo, olho pro céu, peço desculpas por estar perdida, mas tbm peço ajuda pra encontrar a lápide.
Dou 2 passos, olho pro chão e encontro o nome de papis lá... Ah, a plaquinha foi colocada mesmo!
Sento na grama e ainda choro mais um bocado de tempo... pego as trakitanas do balde e começo a limpar a lápide... Olho pro lado e, finalmente, descubro o que eu deveria ter levado pra limpar: limão! Era isso, limão! Bronze se limpa com limão!
Todas as pessoas em volta limpando as lápides esfregando limão! É ele que faz ficar brilhando... e eu ali, sem limão!
Bem, papis me conhece bem e sabe que sou destrambelhada e desatenta... Vai entender a falta de limão... Será? Choro mais um pouco...
Só me tranquilizo quando penso que meu tio ainda vai passar por ali e, certamente, levará limões pra deixar tudo brilhando!
Limpo bem, tiro as flores velhas e sigo meu caminho de volta pra casa!
Hoje, quando chegamos lá pra deixar as flores e prestar as homenagens (eu, mamys e Jé) encontramos a lápide brilhando como ouro e um lindo vaso de flores ao lado.
Como eu previa!!!
No ano que vem, prometo não esquecer os limões!!!
2 comentários:
Eu nunca soube dessa tradição de limpar a lápide. Mas, meu também também era a pessoa que ia ao cemitério e levava flores. No caso dele, foi cremado, conforme seu desejo e eu nunca tinha pensado nessa coisa de "lugar", antes de ler seu post... Bj no coração!
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