Se vocês acompanham meus textos aqui na Capitolina, talvez já saibam que eu faço terapia há uns anos. Mais especificamente, comecei em 2007, com 16 anos – hoje, aos 23, continuo tendo encontros semanais com a mesma terapeuta. A razão pela qual comecei a frequentar o consultório – e pela qual procurei outras ajudas em outros momentos, desde mais encontros por semana até medicamentos – é que, em algum momento, não estava dando conta da minha vida sozinha.
Ao longo dos anos, tive algumas crises depressivas e de ansiedade. Meus sintomas incluíam irritabilidade, apatia, exaustão constante, vontade de chorar por qualquer coisa, tendência a afastar pessoas próximas, falta de apetite, vontade de comer tudo que passava pela minha frente, muita insônia, falta de ar em momentos de estresse e pavor paralisante de fazer coisas rotineiras como sair de casa, pegar um ônibus ou ir à aula. Durante um bom tempo segurei a onda, respirei fundo, aguentei, chorei à beça, mas consegui deixar passar. Mas em 2007 estava difícil, o choro estava demais, o cansaço emocional também, e, aconselhada pelos meus pais, fui atrás de terapia.
Meus pais tinham me sugerido fazer terapia algumas vezes antes. Minha avó é psicóloga, todos da minha família são muito pró-terapia, e eles viam que eu estava mal e que precisava de ajuda além da que eles podiam me oferecer – precisava de ajuda profissional. Eu, mesmo criada neste ambiente de apoio e que sempre naturalizou terapia como algo para todos que quisessem ajuda, fui relutante. Porque, para mim, aceitar terapia significava aceitar que eu estava doente. Na verdade, pior que isso: aceitar terapia significava que eu estava “louca”; que eu tinha um problema, que eu era fraca, que minha cabeça não funcionava como deveria, que eu era desequilibrada, que eu era que nem essas imagens de gente deprimida que a gente vê na ficção. Porque, para mim, existia gente “normal” e depressão nível Garota, Interrompida. Qualquer coisa ali no meio? Era pra respirar fundo e aguentar, ter essa coisa que as pessoas chamam de força.
Mas não estava dando. Eu não aguentava o colégio direito, não aguentava estar em família direito, não aguentava meus amigos direito. Quando em grupos, chorava, brigava com as pessoas, queria voltar para o canto escuro do meu quarto logo depois de chegar numa festa. Quando sozinha, um medo paralisante me invadia, e cada hora da noite até o dia clarear era um pequeno pesadelo. Era hora de aceitar que eu precisava mesmo de ajuda. E, começando a terapia, passei a desconstruir todos esses mitos na minha cabeça: eu não sou fraca, eu não sou errada. Eu sou, tecnicamente, desequilibrada (mas, sejamos honestos, quem não é?) – e a terapia, em meio a outros mecanismos de apoio que desenvolvi com a ajuda da terapeuta, me equilibra. Eu tenho, sim, crises de doença – e vou ao médico e me cuido, da mesma forma que todos fazemos quando temos doenças mais socialmente aceitas, sabe, as que são mais físicas do que psicológicas (já viu alguém com vergonha de ter que tomar remédio pra gripe?). Eu não sou que nem as garotas de Garota, Interrompida, mas não sou tão diferente assim: nenhum de nós é.
Nos sete anos desde então, aprendi muitas coisas sobre mim mesma, e tive ajuda especializada para poder encontrar métodos de equilíbrio e redes de apoio que me ajudam a me manter estável e saudável. Aprendi, e ainda aprendo, a entender, desconstruir e superar medos, bloqueios e traumas. Aprendi, inclusive, que não há nada de errado em não dar conta de tudo; que não há nada de errado em precisar de ajuda, para o que quer que seja; que não há nada de errado em reconhecer e admitir seus limites e dificuldades. Aprendi, também, que tratamentos psicológicos e psiquiátricos funcionam de formas diferentes para pessoas diferentes (assim como tudo quanto é tratamento médico), que às vezes encontrar o melhor terapeuta é um processo árduo, que às vezes teu terapeuta que foi ótimo por muito tempo não está sendo o melhor para o momento, que remédios são ajustados e reajustados com frequência, que é importante se manter ciente de seus próprios ciclos para poder pedir ajuda quando necessário, e que não dá para entrar na terapia esperando resultados mágicos e imediatos ou uma data para receber alta. Mas, em toda sinceridade: se você está se sentindo fora do controle da sua própria vida, se não está dando conta, se tem tido sintomas de depressão, ansiedade, transtornos alimentares ou qualquer outro transtorno, se sua família e amigos estão preocupados com você, ou se, por qualquer outra razão, ao ler este texto se sentiu identificada, não hesite em procurar ajuda.*
* Se você precisar de ajuda mas não tiver acesso a terapia por razões financeiras ou geográficas, o CVV pode te ajudar por chat ou telefone. Além disso, universidades frequentemente oferecem serviços de terapia gratuitos ou por valores simbólicos, e não só para estudantes.
http://www.revistacapitolina.com.br/voce-nao-e-louca-todo-mundo-precisa-de-ajuda/
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